Náufrago na Ilha do Marajó: crônica de uma tragédia anunciada
No dia 08 de setembro de 2022, às 9 horas da manhã, a lancha Maria de Lourdes naufragou em frente a ilha de Cotijuba, no trajeto entre a ilha de Marajó e a capital do Pará, Belém.
Inclusive, esse transporte é tão comum que não deveria ser chamado de
clandestino. Toda a fiscalização dos portos da região, seja municipal, estadual
ou federal tem pleno conhecimento da situação e não faz absolutamente nada para
resolver. Não é uma situação nova, pelo contrário, se prolonga há muitos e
muitos anos. A população pobre da ilha de Marajó não tem outra alternativa que
não seja recorrer a esse transporte perigoso. Os voos são muito caros e os
navios (maiores e mais seguros) não dão conta do fluxo de passageiros, nem
estão disponíveis nos horários necessários. Devido à precariedade dos serviços
públicos oferecidos na ilha, muitos marajoaras necessariamente precisam
deslocar-se frequentemente para Belém e a única alternativa é se submeter a
essa viagem arriscada que, ao contrário do que se pode pensar, não é barata.
Uma passagem numa lancha dessas é da ordem de 50 reais, um preço bastante alto
para a realidade da maioria da população da região.
Em primeiro lugar, nos solidarizamos completamente com os familiares e amigos
das vítimas do naufrágio e também exigimos das autoridades eficiência pelo
menos no resgate dos corpos e no apoio aos sobreviventes e às famílias das
vítimas fatais. Mas, para além disso é necessário que os culpados por esse assassinato coletivo sejam punidos. Além,
obviamente, do dono da embarcação, toda a rede de fiscalização dos portos e
hidrovias que não fiscaliza nada tem as mãos sujas de sangue. E os responsáveis
são os prefeitos, tanto das cidades de Marajó (Carlos Gomes-Podemos, de
Salvaterra, e Antônio Athar-MDB, de Cachoeira do Arari), quanto de Belém
(Edmilson Rodrigues, PSOL), o governador Hélder Barbalho (MDB) e a Marinha do
Brasil, a quem cabe fiscalizar o transporte marítimo e fluvial do país, ou
seja, o próprio presidente Bolsonaro (PL).
Só a luta das trabalhadoras e trabalhadores pode mudar esse estado de coisas. Os ricos só choram os seus. Não esqueceremos dos nossos.
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