Aumento da taxa do desemprego, da pobreza e do feminicídio: não há o que comemorar neste 8 de março
Por Giselle Pereira (São Paulo) e Rebeca Monteiro (Amazonas)
“Desde o início da pandemia, em março de 2020, estou desempregada. Minha renda mantinha as despesas da casa e o sustento de quatro crianças”, disse Maria José, moradora da Zona Oeste de São Paulo. O caso não é isolado no país, pois dos 12 milhões de desempregados, 6,5 milhões são mulheres, 5,4 milhões são homens, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O período pandêmico e o agravamento da crise capitalista escancarou a opressão de classe, de gênero e de raça. As mulheres hoje lutam para manterem a sobrevivência em meio a um processo brutal de destruição de direitos mínimos da classe trabalhadora. O cenário atual é de aumento dos índices de desemprego, combinado com uma forte presença do mercado informal.
Essa situação do fim dos postos de trabalho formais, afetou em especial as mulheres negras. Segundo o PNAD/IBGE, no 1º tri de 2022, 43,3% das mulheres negras ocupadas estavam em postos de trabalho informais, taxa superior à média nacional (40,1%) e dos homens brancos (34,8%).
A imposição da maternidade e o abandono
Além de perderem os empregos, as mulheres tiveram que assumir os cuidados com idosos, a educação das crianças e dos adolescentes, especialmente, durante a pandemia. A opressão aprisiona a mulher no papel de cuidadora, contudo, o exercício da maternidade e o cuidado dos idosos é feito sem qualquer auxílio do poder público.
Essa violência machista é institucionalizada pelo Estado. Nos últimos anos, foram várias notícias chocantes de meninas que foram violentadas e com a conivência da justiça burguesa enfrentaram dificuldades em acessar o direito legal ao aborto. A vida de meninas não importa para governos que utilizam das imagens da família para se elegerem, enquanto a vida das crianças violentadas é colocada em risco.
A dura realidade é que em 2023, não existe o direito da mulher de decidir sobre o seu corpo. O machismo exerce um controle público sobre o corpo feminino, desde a negação da educação sexual nas escolas e o combate efetivo ao crime de estupro, até obrigar às mulheres assumirem a maternidade, com a criminalização do aborto.
Por outro lado, quando as mulheres querem exercer a maternidade e escolhem ser mães, elas são abandonadas pelo Estado e enfrentam inúmeros desafios para sustentarem suas famílias e cuidarem dos seus filhos. Isso impõe uma sobrecarga de trabalho exaustiva. Além do cenário de pais que abandonam os filhos ser extremamente comum, o fato é que pertence às mulheres a busca por conciliar trabalho com o cuidado dos filhos e sequer existe o acesso universal às creches.
Mesmo com diversas metas e promessas, até hoje, inexiste uma rede pública de creches que atenda todas as crianças e permita que mães trabalhem, enquanto seus filhos estão seguros. Tudo isso faz com que as mães pobres fiquem ainda mais em condições de vulnerabilidade social.
Casos de feminicídios aumentam no país
Para piorar o cenário, nos últimos anos, os casos de violência doméstica aumentaram; 1 em cada 4 mulheres brasileiras (24,4%) acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência ou agressão nos últimos 12 meses (dados referentes a 2022). Isso significa dizer, segundo pesquisa, que cerca de 17 milhões de mulheres sofreram violência física, psicológica ou sexual nesse período.
O aumento dos feminicídios também é exposto no relatório “Violência contra Meninas e Mulheres do Fórum Brasileiro de Segurança Pública”, lançado em dezembro. Conforme o documento, no primeiro semestre de 2022, o Brasil bateu recorde de feminicídios – cerca de 700 casos. As mulheres negras são 67% das vítimas.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública (da mesma instituição), em 2021, contabilizou 1.341 feminicídios. Os números eram 1.229 em 2018, 1.330 em 2019 e 1.354 em 2020. Conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em média, quatro mulheres foram assassinadas por dia entre janeiro e junho de 2022.
Em todo país, Delegacias da Mulher e Casas Abrigos foram fechadas e pouco se investiu em políticas públicas de combate a violência contra a mulher. O Governo Bolsonaro, que escancarou seu ódio contra as mulheres, gastou apenas R$ 5,6 milhões de um total de R$ 126,4 milhões previstos com políticas para a mulher.
Estudo da consultoria da Câmara aponta ainda uma baixa execução orçamentária na área, enquanto denúncias de violência contra a mulher ao Ligue 180 cresceram 35% durante a pandemia.
2023 já começa com dados alarmantes
Os dois primeiros meses deste ano, em diferentes regiões do país – e do mundo –, foram marcados por casos brutais de violência contra as mulheres. Na maioria deles, parceiros e ex-companheiros figuram como principais suspeitos e/ou responsáveis pelos crimes.
Além disso, a situação do avanço da mineração na região amazônica, não só provocou o genocídio do povo yanomami, como também a tragédia do abuso sexual de meninas indígenas, o que reforça a combinação aplicada pelo capitalismo de subjugar povos e as mulheres para garantir a exploração das riquezas.
A mineração além de promover a destruição da natureza e dos povos indígenas também leva a presença da exploração sexual, inclusive com a aliança com rede de tráfico de mulheres em territórios de fronteiras. A objetificação da mulher alcança, assim, uma máxima dolorosa, sendo diretamente transformada em uma mercadoria e abandonada em meio à destruição ambiental.
Diante do contexto, não podemos nos calar. É preciso denunciar nas ruas, nas escolas, nas fábricas e nas igrejas as mazelas a que estão submetidas cotidianamente as mulheres, sendo uma parcela mais subjugada da classe trabalhadora, enfrentando a opressão e a exploração.
A luta se faz aqui e agora
O 8 de março nasceu como um dia internacional da luta das mulheres trabalhadoras. No entanto, nos últimos anos, os atos e protestos no país esqueceram as pautas e reivindicações das mulheres trabalhadoras e concentraram-se unicamente na demanda por espaços de poder dentro do Estado burguês.
Esse ano tudo está mais escancarado, quando o centro dos atos será a “defesa da democracia”. Ora a democracia burguesa nas últimas décadas foi a algoz do direito das mulheres. O parlamento burguês democraticamente eleito retirou direitos trabalhistas, atacou a previdência das mulheres e nos nega o direito ao aborto, por exemplo.
Além de tudo, a polícia que sustenta essa democracia, executa os filhos de mulheres negras nas periferias, reprime a auto-organização das mulheres, agride manifestantes e expulsa constantemente famílias de suas moradias e ocupações.
Os chamados do 8M, refletem assim uma adesão acrítica a esse projeto de democracia burguesa, servindo para destruir o caráter independente dos atos e fortalecer a classe dos patrões que utilizam os governos para aplicarem um projeto de barbárie capitalista.
Ao contrário da maioria das organizações de esquerda, nós mulheres da Aliança Revolucionária dos Trabalhadores não apoiamos e não confiamos no governo burguês de Lula/Alckmin. Lula (PT) foi o mesmo que para ser eleito negociou nossos direitos com a reacionária bancada da bíblia, o mesmo que mantém o arrocho salarial que afeta diretamente as mulheres trabalhadoras e foi financiado pelas mineradoras, grandes bancos e pelo agronegócio. É preciso ser oposição a esse e qualquer governo que nos oprime e nos explora.
Assim, nesse 8M estaremos nos atos e não nos dobraremos! Mulheres e homens devem estar nas manifestações, em oposição ao governo e defendendo a vida das mulheres, as garantias sociais e o fim do sistema capitalista que aprofunda a pobreza, a exclusão e o abismo social.
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