Racistas não passarão!!!
Por Giselle Pereira
Nós, da Marx Brasil, repudiamos o incêndio criminoso ocorrido no último dia 9, terça-feira, que destruiu parte do Ponto de Memória do Jongo de Santa Bárbara, na região do Sapê do Norte. Não temos dúvida que trata-se de mais uma ação de racismo religioso que, não por acaso, ocorre após mais um ato de demonização das religiões afro-brasileiras por parte de pessoas do governo federal, no caso a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Frente a isso, exigimos que o governador Renato Casagrande coloque o aparato institucional do estado para apurar a sério o caso, identificando e punindo os responsáveis por mais esse ato de violência. O Ponto de Memória ficava na comunidade quilombola de Linharinho, em Conceição da Barra, norte do Espírito Santo. Todas as comunidades quilombolas da região resistem com grande dificuldade ao assédio do agronegócio sobre suas terras e seu modo de vida, principalmente por parte da bilionária multinacional Suzano. Por isso, é preciso investigar se não há também interesses econômicos por trás desse ataque.
A coordenadora do espaço premiado por ser referência da cultura quilombola, Gessi Cassiano, conhecida como Dona Gessi, Mestra da Cultura Popular e portadora dos saberes tradicionais da cultura quilombola capixaba, registrou Boletim de Ocorrência (B.O) e aguarda investigação. O Ministério Público Federal (MPF) também foi informado, bem como as secretarias de Estado de Cultura e de Direitos Humanos (Secult e SEDH), além de organizações da sociedade civil que atuam em direitos humanos e cultura afro-brasileira.
Avaliamos que, apesar do trabalho dos movimentos sociais e populares para coibição dos casos de racismo religioso e o envolvimento das entidades da sociedade civil organizada, situações semelhantes a essa têm crescido em todo Brasil e pouco ou quase nada tem sido feito pelo poder público com o objetivo de inibir a violência religiosa racista. Pelo contrário. Bolsonaro, desde que assumiu a presidência, ataca as comunidades tradicionais, já tendo até comparado os quilombolas a gado, e segue (junto a seus cúmplices) incitando ao ódio e ao silenciamento de práticas religiosas relacionadas a matrizes africanas, bem como de suas representações culturais.
Destacamos, no entanto, que embora tenha sido intensificado o racismo religioso nos últimos anos, não é de hoje que os terreiros das religiões de matriz africana, afro-brasileira e afro-indígena têm sido alvo constante das violências, intolerâncias e racismo religioso; numa tentativa de impedir a realização dos rituais, da adoração aos orixás e entidades sagradas. Isso não é novidade, o racismo religioso chegou ao Brasil com as caravelas de Cabral!
Assim, exigimos de todos os governos, em todos os níveis, que garantam a laicidade, assegurem a liberdade religiosa e efetivamente implementem o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena como conteúdo obrigatório na educação já estabelecido pelas Leis 10.639/03 e 11.645/08.
Uma sociedade que não conhece a sua História está fadada à reprodução de suas mazelas, entre elas, a perpetuação das opressões. Neste caso, salientamos a importância das ações afirmativas, para que elas possibilitem o debate com vias a uma consciência autônoma e classista, desmascarando o racismo um dos pilares estruturantes da sociedade capitalista, que trata a nós, negras e negros, como objetos, nos animaliza, demoniza nossas crenças e nossas tradições, nega nossa História, nossa ancestralidade, nos criminaliza, nos encarcera em massa, nos estupra, nos extermina. É esse o papel que a burguesia branca brasileira quer para nós: continuar sendo a mão de obra mais barata do mercado, e também completamente descartável. Para isso ela precisa destruir a memória dos quilombos, afinal eles são o maior símbolo de resistência da História da classe trabalhadora brasileira! Por isso, mais do que nunca, é preciso aquilombar as lutas! Não existe capitalismo sem racismo! Se Palmares não vive mais, faremos Palmares de novo! Se queimaram o Ponto de Memória, faremos o Ponto de Memória de novo!
Linharinho resiste! O Sapê do Norte resiste! O povo negro resiste!
Não ao genocídio da população negra e da nossa cultura! Racistas, não passarão!
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