Garantir as conquistas democráticas do povo brasileiro na lei ou na marra: golpe se derrota nas ruas!
A grande imprensa (nacional e até internacional) não fala de outra coisa: um dia sim, o outro também, Bolsonaro e os militares ameaçam com um golpe de Estado caso não vençam as eleições em outubro (o que cada vez está mais improvável). O último episódio foi a patética reunião de Bolsonaro com os embaixadores de diversos países no dia 18/07.
Independentemente de avaliações sobre a viabilidade ou não de que essa empreitada, de fato, venha ocorrer ou, caso ocorra, se mantenha, não é admissível minimizá-la, ou tratar a mesma apenas como retórica. Se é dito aos quatro ventos que será dado um golpe para impedir que Lula tome posse, como tentaram fazer com Juscelino Kubitschek, em 1955 e com João Goulart, em 1961, é evidente que é o próprio Lula que tem que levar isso a sério e chamar a derrotar esse golpe com mobilização de massas.
É no mínimo irritante ver a base do PT, PSOL e de suas subvariantes apavorada e, ao mesmo tempo inerte ou entretida em redes sociais, diante de uma manifestação golpista convocada por Bolsonaro para o dia 07 de setembro.
Qual a razão de não jogar peso e fazer uma manifestação multitudinária que combine o enfrentamento contra o golpe com as demandas econômicas e sociais da classe operária, dos povos originários, da juventude negra, das mulheres, etc.? Qual a razão para não chamar a massa de famélicos que hoje constitui mais de 50% da população brasileira a tomar as ruas por comida e para enfrentar as intenções golpistas dos bolsonaristas?
No último domingo (17 de julho), uma gangue encabeçada pelo deputado Rodrigo Amorim atacou uma caminhada do deputado Marcelo Freixo na Tijuca. Uma atitude absolutamente inaceitável e que tem todo o nosso repúdio. Mas qual a saída que Freixo e seus apoiadores apontam para evitar que novas ações dessas ocorram? Fortalecer as ações de campanha com um aparato de autodefesa? Seria o obvio, não é? Mas não!!! Apelam ao TSE, aos governos, às polícias (majoritariamente bolsonaristas e historicamente inimigas dos trabalhadores), apelam desesperadamente aos “generais legalistas”, os mesmos que comemoram o golpe de 1964 como se fosse uma revolução. Tudo isso logo depois do covarde assassinato de Marcelo Arruda e do vergonhoso resultado do inquérito policial apresentado em tempo recorde pela delegada “responsável” pela investigação.
Existe uma anedota sobre um rapaz preguiçoso que, deitado em sua cama, pede gritando para sua mãe trazer remédio para picada de cobra. A mãe pergunta se ele foi picado e ele diz que ainda não, mas que tem uma cobra no canto do quarto olhando pra ele. É a mesmíssima situação!!! Os petistas dia sim, outro também choram nas redes sociais sobre o golpe mais-do-que-anunciado para outubro. A única alternativa que veem para impedir esse golpe é ganhar as eleições no primeiro turno. Uma vez que o pressuposto desse golpe é dizer que as eleições serão fraudadas, a lógica mais elementar aponta que essa estratégia não faz nenhum sentido.
Nós de Marx Brasil, consideramos criminosa a trégua que vem sendo dada a Bolsonaro desde a fracassada tentativa de golpe de 07 de setembro do ano passado. Por isso, chamamos o conjunto das organizações de esquerda a um milésimo de segundo de reflexão séria sobre isso. Não se derrota golpe nas urnas. Caso contrário não seria golpe, seria simplesmente disputa eleitoral. É preciso ir pra cima dos golpistas. Aqueles que desejam votar em Lula e que realmente acreditam que ele é capaz de derrotar o bolsonarismo, têm a obrigação de exigir que Lula mobilize os parlamentares do PT para convocar os comandantes das Forças Armadas para explicarem no Congresso Nacional suas recorrentes ameaças contra o transcurso eleitoral. Mas isso também não é suficiente. Aqueles que argumentam que votarão em Lula porque essa é a única via de derrotar Bolsonaro, devem exigir imediatamente que o ex-presidente convoque uma manifestação popular que encurrale as forças armadas e as coloque em seu devido lugar.
Nós marxistas não temos nenhum acordo com o que será o governo neoliberal de Lula e Alckmin. No entanto, estamos seguros que seremos os primeiros a atender a um chamado de Lula, caso esse resolva chamar mobilizações populares para garantir o processo eleitoral.
Como leninistas, entendemos que na carcomida democracia burguesa o sufrágio universal foi uma conquista arrancada pela classe operária e por essa razão estamos dispostos a defendê-lo como um direito democrático. Em outras palavras, estamos dispostos a impedir um golpe militar em nosso país custe o que custar. Estaremos na linha de frente de todas as ações necessárias para esse enfrentamento! Somos a favor da mais ampla aliança nas ruas para barrar o golpe. Isso não implica, evidentemente, que somos a favor dessa mesma unidade para governar o país, pois ao contrário dos velhos e novos lulistas, somos marxistas e não esquecemos que os interesses dos trabalhadores e da burguesia são irreconciliáveis.
Se, no entanto, Lula não quiser chamar a lutar contra o golpe nas ruas, que é onde se pode derrotá-lo, que não nos cobre responsabilidades sobre derrotá-lo nas urnas. Estaremos com Lula e até com Alckmin se esses se dispuserem a organizar passeatas, atos e greves contra um golpe militar. Isso não implica qualquer adesão ao seu programa ou a sua candidatura. E certamente estaremos na linha de frente da oposição a seu governo.
Quando os quarteis se assanham e a gorilada bota as manguinhas golpistas de fora, cobramos também de Lula e de seus apoiadores que apresentem um programa minimamente democrático para as forças armadas, para varrer de vez todo o entulho que sobrou da ditadura: acabar com a Lei da Anistia e punir todos os torturadores e assassinos do regime de 64; mudar o sistema de formação das forças armadas, que em suas academias diz que o golpe militar de 64 foi uma revolução e nos quarteis comemora seu aniversário; acabar com a propaganda golpista promovida pela ADESG (associação dos diplomados da escola superior de guerra) que há décadas difunde a ideologia dos extratos superiores das FFAA; varrer completamente o nefasto “ensino cívico-militar”, extinguir a guarda nacional e as GLO e investigar a sério os crimes cometidos pelo exército brasileiro na invasão do Haiti e na ocupação militar do Rio de Janeiro.
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