Novamente: nem mais um dia para Bolsonaro, mas Lula e Alckmin não são uma alternativa para a classe trabalhadora

 


O Brasil vive um gigantesco processo de desindustrialização e reprimarização da sua economia. Seu lugar na divisão internacional do trabalho caminha para ser o de um grande fazendão de algumas monoculturas e uma grande mina. Ou seja, estamos voltando a um cenário de ser, na prática, uma colônia exportadora do imperialismo.

Dentro desse cenário mundial, não há nenhuma possibilidade de reversão da gravíssima crise econômica pela qual passa o país, que está assolado pela fome, pela carestia e pela precarização do trabalho, a não ser que se rompa com esse sistema. Não há migalhas a serem distribuídas. Não é possível manter os altíssimos lucros da burguesia nacional e internacional e, ainda assim, aplicar algumas medidas magras de redistribuição de renda. Não há mais espaço para isso.

Sem dúvida, Bolsonaro representa a excrescência mais fétida do capitalismo brasileiro e é, simplesmente, um absurdo que esse genocida continue a governar por mais um único dia. No entanto, desde o fracassado golpe de Estado de 7 de setembro de 2021, POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, toda a oposição burguesa e, inclusive, partidos que se dizem da classe trabalhadora, pararam com qualquer mobilização para derrubar este governo e buscam canalizar toda a revolta de nossa classe para a via morta das eleições.

Não é exagero dizer que Lula, o PT e seus aliados, escolheram enfrentar Bolsonaro nas eleições e que, por isso, frearam qualquer luta para que este não pudesse disputá-las. Enquanto nós da Marx Brasil seguimos insistindo na necessidade de lutar por nem mais um dia para Bolsonaro, essas mesmas direções que dão sobrevida ao governo, chantageiam nossa classe a votar em Lula (com qualquer vice, com qualquer programa e com quaisquer alianças) para impedir que Bolsonaro seja reeleito. Deixam o genocida seguir tranquilamente com toda a máquina do Estado nas mãos e, caso ele consiga se reeleger com o uso dessa máquina, a culpa será de quem não votou no PT!  Ora, vamos!

Dentro dessa chantagem, a direção petista chega ao ponto de normalizar Geraldo Alckmin. O mesmo Geraldo que foi quatro vezes governador de São Paulo, privatizando tudo o que pôde, comandando a Rota, uma das polícias mais genocidas e racistas do país, reprimindo violentamente manifestações populares, roubando merenda e o metrô, destruindo ocupações como o Pinheirinho…  O mesmo Alckmin que era o candidato preferido da burguesia em 2018. O Alckmin, da ultra-reacionária Opus Dei! Pois Alckmin foi escolhido pela direção petista para ser a encarnação da “Carta aos Brasileiros” de  2002 e da “Carta ao Povo de Deus” de 2010. Se havia alguma dúvida de qual o caráter de um governo Lula 3, a dobradinha com o “picolé de chuchu” está aí para acabar com elas: Alckmin é a garantia de que os interesses da burguesia serão todos defendidos por esse governo. É a mão estendida para a Faria Lima, para o latifúndio, para o imperialismo. Mas, por incrível que pareça, isso é celebrado como “unidade em nome do Brasil”.

Mesmo agora, quando Bolsonaro ameaça com um golpe de Estado caso perca as eleições, o que Lula e cia defendem é… votar! Quando o golpe que se propagandeia é exatamente contra as eleições. É muita incoerência! Se há ou não risco real de golpe militar, o simples fato de que está se discutindo isso abertamente coloca imediatamente uma tarefa óbvia: chamar a classe às ruas, construir uma Greve Geral, ir à luta com todas as armas contra esse eventual golpe. Mas não! Não se chama um mísero dia de luta. O 1º de maio foi esvaziadíssimo!!! A única política do lulismo é: vote em outubro! Contra a inflação? Vote em outubro! Contra o desemprego? Vote em outubro! Contra a fome? Vote em outubro? Para não ter golpe militar? Vote em outubro! É patético! Bolsonaro precisa ser combatido sem tréguas. Bolsonaro não pode continuar no governo nem mais um dia! As Forças Armadas precisam ser enfrentadas pela força do povo! Mas, ao invés disso, devemos votar e confiar no STF, no Congresso, no imperialismo, nas convicções democráticas burguesia nacional, nos “generais legalistas”… Dá pra engolir isso? Se existe a possibilidade de um golpe de Estado em nosso país, a única forma de combatê-lo é com povo na rua! Lula teria a obrigação de chamar a enfrentar esse golpe, mas não o faz. Se de fato um golpe vier a ocorrer, a culpa será também das direções traidoras que deixaram Bolsonaro no poder e se recusaram a lutar contra o fechamento do regime!

Nesse momento, ainda longe das eleições, a Marx Brasil ainda segue discutindo sua política para as eleições burguesas. Mas uma coisa é clara para nós: se é uma tragédia que Bolsonaro seja reeleito, caso Lula e Alckmin vençam as eleições e apliquem o programa burguês que todos sabem que irão implementar, amplificando os ataques aos trabalhadores para seguir a cartilha do imperialismo, a ultradireita poderá se fortalecer, e muito.

Sempre que um país passa por uma gravíssima crise econômica como a que estamos enfrentando, a polarização social tende a explodir e duas possibilidades totalmente antagônicas se colocam abertamente no cenário, disputando os rumos da luta de classes: revolução socialista ou fascismo.

Para uma revolução socialista ser vitoriosa, e se manter sem degenerar numa burocracia criminosa, é imprescindível a existência de uma direção revolucionária. E essa não existe hoje, nem nada próximo disso, nem no Brasil, nem em nenhum lugar do mundo. A burguesia luta à morte para impedir a construção dessa direção e apela a todos os arranjos políticos para isso. Quando não consegue um governo seu “normal”, como foram Collor, Itamar, FHC e Temer, apela primeiramente a governos ditos “de conciliação de classe” para travar as lutas e, quando esses não forem suficientes, a governos de ultradireita, a golpes de Estado e ao fascismo. De qualquer forma, todas essas são alternativas da burguesia (que óbvio tem conflitos, disputas internas, contradições, erros, etc.). A única alternativa da classe trabalhadora é a sua organização independente e combativa, construindo nas lutas cada vez mais necessárias para a própria sobrevivência, uma direção revolucionária.

Assim, com todo o respeito aos inúmeros camaradas sinceros que estão dando (mais) voto de confiança a Lula e ao PT, afirmamos que seu governo será um governo inimigo de nossa classe, que  aprofundará os ataques que já estão em curso e que terá que ser combatido com toda a nossa força. Além disso, mais uma decepção com a dita esquerda, pode empurrar ainda mais setores da nossa classe para os braços da ultradireita.

Por isso, para além das eleições, é preciso lutar contra as ilusões que Lula e seus aliados (PT, PSB, PCdoB, PV, REDE-PSOL e quem mais chegar) buscam incutir na classe trabalhadora. É preciso dizer, com todas as letras, que só a luta, nas ruas, nas fábricas, nas florestas, nos campos, nas salas de aula é que pode derrotar o projeto do Capital para nosso país, em todas as suas facetas e nuances.

É com esse espírito que a Marx Brasil participará do processo eleitoral em nosso país: discutindo com as trabalhadoras e trabalhadores do campo e das cidades, com os povos indígenas e quilombolas, a necessidade de sua organização, de sua ação direta por meio de greves, de ocupações fábricas e fazendas, de autodefesa dos territórios ancestrais, etc.

É necessário debater um programa para combater a desindustrialização e a reprimarização da economia brasileira, a precarização e o desemprego. Para defender os povos originários, para acabar com a fome, a carestia, a falta de moradia. Para acabar com o racismo que estrutura o capitalismo brasileiro, construído sobre as costas de milhões de negros escravizados e do genocídio dos povos indígenas. Para acabar com o machismo e a LGBTfobia que matam, ferem, sequestram, estupram e escravizam milhares e milhares todos os anos a serviço dos lucros do capitalismo e sua face patriarcal. Para dar um basta na destruição da natureza que, em médio prazo, coloca grave risco a própria sobrevivência da humanidade. Um programa que se proponha a essas tarefas inadiáveis é impossível de ser construído sob o capitalismo e, para destruir esse sistema antes que ele nos destrua de vez, a única possibilidade é uma revolução socialista.

É isso que nós da Marx Brasil iremos construir e apresentar nos próximos meses, enquanto as alternativas messiânicas da burguesia estarão em todas as mídias despejando as mentiras de sempre. É claro que não temos, nem poderíamos ter, um programa pronto e acabado para apresentar. Mas, por outro lado, não partimos também do zero. Nossa classe já elaborou muito ao longo de sua caminhada e segue elaborando todos os dias na sua luta por sobrevivência e dignidade. É esse programa vivo e em permanente construção da nossa classe, a única classe que produz, que queremos chamar todas e todos para discutir conosco. Independente das eleições.

Nesse processo, nossa prioridade será debater e construir um programa revolucionário para nossa classe e ajudar a construir a luta direta das trabalhadoras e trabalhadores de nosso país, buscando reverter a lamentável dispersão das lutadoras e lutadores de nossa classe que, como nós, não se veem representados em nenhuma das organizações de esquerda institucional. Seguimos lutando por nem mais um dia para Bolsonaro, seguimos exigindo que as direções do movimento chamem a lutar contra esse governo, seus ataques incessantes contra nossa classe e os povos originários e contra a ameaça de um golpe de Estado. Eleição nenhuma resolverá esses problemas!

Venha com a Marx Brasil! É preciso voltar a Marx e às lições esquecidas pela grande maioria da esquerda, totalmente iludida com a democracia burguesa e os seus aparatos institucionais, sejam eles eleitorais ou sindicais.


Comentários

Postagens mais visitadas