Nenhum dia a mais para Bolsonaro! Fora Já!

 

No mês de janeiro o Brasil chegou ao total de 624.493 mortos por Covid, 13,5 milhões de desempregados, 38 milhões de trabalhadores sem qualquer proteção trabalhista, 19 milhões de famintos e 220 mil pessoas morando nas ruas. Esse é o mosaico de crises, no qual a crise sanitária combina-se, dia após dia, com a crise econômica e com a crise social.

No entanto, de forma inusitada, essa combinação de crises não resulta numa crise política capaz de derrubar o governo burguês, retrógrado, reacionário, genocida, autoritário e corrupto de Jair Bolsonaro. Diante disso, para além de detectar a relativa estabilidade do governo federal, cabe-nos perguntar por qual razão Bolsonaro não somente ganha fôlego para concluir seu mandato como também ainda permanecer como o candidato favorito de 1 em cada 4 brasileiros.

A recomposição burguesa e a paz bolsonarista

       Desde que chegou ao poder, e mesmo antes, Bolsonaro nunca escondeu suas pretensões golpistas, nunca disfarçou que suas ambições políticas não caberiam nas margens da democracia burguesa, mesmo que essa democracia seja também uma desfaçatez da ditadura do capital.

       É inegável que no dia 7 de setembro de 2021 as pretensões golpistas se transformaram em ações golpistas, ainda que malogradas. Bolsonaro, apoiado nos setores mais bárbaros do agronegócio, na empobrecida pequena burguesia comerciante das grandes cidades e em líderes religiosos de seitas pentecostais tentou articular um golpe cujo centro era demolir o poder judiciário e manter submisso o poder legislativo. Não foi por outra razão que o bolsonarismo fechou diversas estradas e levou às ruas 1 milhão de pessoas - um fracasso de público, afinal os golpistas anunciavam marchar com mais de 2 milhões de lunáticos de extrema-direita.

      Ocorre, todavia, que após a tentativa fracassada de golpe, contraditoriamente Bolsonaro ganhou uma relativa estabilidade política, cuja principal característica foi a diminuição até o total desaparecimento dos atos de rua denominados Fora Bolsonaro.

Por um lado, a direita tradicional com seus instrumentos de bastidores decidiu sustentar Bolsonaro e manter a estabilidade das instituições burguesas do país. Esse movimento foi feito por ninguém menos que Michel Temer, o nome do capital que sempre teve trânsito livre entre o PMDB, DEM, PSDB, PT, PSL, etc. Por outro lado, as intercaladas manifestações que canalizaram o descontentamento popular com o governo genocida, entre junho de 2020 a agosto de 2021, foram paulatinamente arrefecidas até desaparecerem por completo dos chamados das organizações sindicais e partidárias que dizem se opor a Bolsonaro.

Ou seja, quando da possibilidade real e necessária de derrubar Bolsonaro após a sua tentativa fracassada de golpe, a CUT, PSOL e o PT, majoritários no movimento operário e popular, se articularam com as forças políticas e sociais da direita (Rede Globo, Folha de São Paulo, PSDB, PMDB, etc.) para garantir a tranquilidade para o governo, formando assim um grande pacto tácito para evitar que a crise econômica, social e sanitária se transformasse em uma crise política explosiva. Agiram em conjunto para transformar as dores populares em um descontentamento administrável dentro das estremaduras do próprio regime democrático burguês, respeitando o rito do calendário eleitoral. Eis a mágica que transfigurou a palavra de ordem Fora Bolsonaro na palavra de ordem Lula 2022.

A dor da classe operária não cabe na urna

Que o governo Bolsonaro é um governo genocida, o rosto mais podre e escancarado de uma burguesia escravocrata, colonizada e assassina, isso não resta dúvida para nenhum ativista honesto e para nenhum trabalhador com consciência de classe. Mas há outras perguntas que devem ser feitas: Quantos dias mais um pai e uma mãe de família deverão esperar para abrigar e saciar a fome de seus filhos sem pão e sem teto? Quantos minutos a mais uma mulher deve esperar para tirar um governo abertamente feminicida em um país no qual uma mulher é estuprada a cada 8 minutos? Quantos segundos a mais deverão esperar os povos indígenas na Amazônia quando 116 mil árvores são derrubadas a cada 1 hora na maior floresta tropical do mundo? Quantos milésimos de segundos a mais deverão esperar os pobres da periferia das grandes cidades em um país no qual um jovem negro é assassinado a cada 4 horas pela polícia? Quantas horas a mais cederemos para um governo lgbtfóbico em um país que assassina uma LGBT a cada 19 horas?

É justo que os mortos, os sequelados pela Covid, os desempregados, os famintos e os sem tetos sejam calculados pela dita oposição (PT, PSOL, PDT, etc.), na mesma calculadora em que se conta os votos? Quão de cumplicidade há entre aqueles que presenciam um genocídio e tendo condições para derrotá-lo não o fazem e permitem que tal genocídio prossiga? Podemos confiar realmente que aqueles que hoje permitem que Bolsonaro governem em paz sejam amanhã uma alternativa real contra o bolsonarismo? Como podemos acreditar num chamado à unidade de “todos para tirar Bolsonaro”, se isso na prática significa “que todos deixemos Bolsonaro terminar seu mandato em paz”?

De nossa parte dizemos: precisamos tirar Bolsonaro do poder agora e não podemos confiar em que não queira fazê-lo. Por isso não temos nenhuma confiança nos representantes da burguesia de todos os diversos matizes (Lula, Ciro Gomes, Moro, etc.). Quem quer, de fato, derrotar a ultra direita não freia as lutas, tampouco busca canalizar toda a revolta da população para o beco sem saída das eleições.

Nenhum minuto a mais para o genocida. Ocupar as ruas, as fábricas, escolas e universidades até Bolsonaro cair. Fora Bolsonaro já! As dores dos trabalhadores brasileiros não cabem numa urna.

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