Chile: Abstenção e voto branco/nulo no 2º Turno
Por La Marx Chile
Diante do 2º turno, em 19 de
dezembro de 2021, propomos continuar com a abstenção e voto nulo. Nenhuma das
duas coligações lideradas por Kast, nem a liderada por Boric, representam os
interesses dos trabalhadores e do povo. Devemos rejeitar e não dar nenhum voto
àqueles que defendem o Chile Capitalista, e o seu regime antidemocrático,
corrupto, anti-operário e antipopular.
Nas eleições gerais de 21 de
novembro de 2021, a maioria do povo chileno virou as costas às eleições
fraudulentas das classes dominantes e às coalizões capitalistas. Mais de 8
milhões de chilenos, mais a metade da população, 53% dos eleitores habilitados
rejeitaram a farsa democracia burguesa, e os candidatos defensores do
capitalismo chileno. No total, cerca de 7.915.383 milhões de chilenos se
abstiveram, ao que se somaram 31.322 de votos em branco, e os 57.200 de votos
nulos.
Nosso povo rejeita a eleição
em defesa da Revolução
Nosso povo rejeitou massivamente
as eleições de 21 de novembro (1º turno) em defesa da Revolução que os chilenos
iniciaram em outubro de 2019. Desde a explosão social, o "Chile
acordou" e isso não tem mais volta. O povo já não acredita nos poderes
Executivo, Legislativo, e Judiciário que defendem os interesses dos ricos, os
banqueiros, as grandes empresas e multinacionais capitalistas, e afundam na
pobreza a 99% da população e os mais vulneráveis.
Os setores que foram votar
massivamente foram os setores mais atrasados da população, a burguesia chilena,
os ricos, as classes médias, os intelectuais, professores e opinólogos que
apoiam o sistema, os setores acomodados. Nas comunas da classe trabalhadora a
participação eleitoral foi muito baixa, a maioria dos eleitores da classe
trabalhadora não sentiram que essa eleição fosse importante, nem acreditam nas
fraudes dos partidos capitalistas do país.
O nosso povo entende, como
afirmou León Trotsky no Programa de Transição, que a democracia capitalista é
"para os ricos", "aqueles em que ainda podem permitir-se o luxo
da democracia". Os mais vulneráveis, os que vivem no Wallmapu
militarizado, os jovens revolucionários que se levantaram contra o pinochetismo
e o regime dos "30 anos" compreendem que nada se pode esperar da
farsa eleitoral.
A revolução que os chilenos
iniciaram não reconhece nenhuma das atuais autoridades do país como legítimas.
O Presidente Piñera, que cometeu crimes contra a humanidade, deveria estar
preso. Nem o Poder Executivo, nem o Congresso são legítimos, nem representam o
povo, porque foram eleitos pela velha Constituição de Pinochet. Também não
foram legítimas as eleições de 21 de novembro, que foram regidas por uma Constituição
que todos nós, chilenos, rejeitámos e que pusemos fim.
O 2º turno é tão ilegítimo
como são ilegítimas as eleições gerais
Não pode haver democracia, nem
eleições legítimas enquanto houver 2500 presos políticos nas prisões, mulheres
e homens jovens. Nenhuma das coligações que se apresentaram às eleições propõem
a anistia ou o indulto para a liberdade imediata dos presos políticos, e
milhares de chilenos humildes, são detidos por exercer o direito de protesto.
Continuamos a exigir justiça por Denisse Cortez, enquanto o Estado Capitalista beneficia banqueiros e empresários corruptos como Carlos Délano, do grupo Penta e seu projeto da Minera Dominga. Mas, além disso, as duas coalizões capitalistas que participam do 2º turno, a Coalizão do Partido Republicano e Jose Antonio Kast, tanto quanto a Coalizão Aprovo- Dignidade encabeçada por Gabriel Boric e integrada por grupos da Frente Ampla (FA), o Partido Comunista (PC), e os Verdes, não apresentam nenhum programa que defendam os interesses dos trabalhadores e do povo.
Kast recebeu apenas 13% dos que
podem votar, enquanto Boric apenas 10%, são coalizões que não representam as maiorias
populares. Pressionados pela manobra do 2º turno e por uma "polarização
forçada" dentro da democracia burguesa, alguns setores irão votar, mas
isso não muda o caráter pouco representativo das eleições.
E também não muda o caráter pouco
representativo das forças capitalistas que competem nelas. Qualquer uma das
coalizões que chegar ao governo será fraca, e sem apoio popular porque o povo
lhes deu as costas e não acredita mais em suas mentiras. Continuar com a abstenção
e voto branco/nulo no 2º turno, em 19 de dezembro de 2021, nos permite defender
nossa revolução contra qualquer tentativa de derrotá-la.
O projeto reacionário de Kast
deve ser rejeitado
A Coalizão do Partido Republicano
e Jose Antonio Kast, não apresentam nenhum programa que defendam os interesses
dos trabalhadores e do povo. Kast vem diretamente do núcleo do pinochetismo e
foi um dos fundadores do partido ultraconservador UDI, que defende os
interesses das classes dominantes, e um programa de fome e entrega capitalista
para o povo.
Kast quer aumentar as já elevadas
pensões das Forças Armadas, aumentar a idade de Reforma e perseguir os ativistas.
Ameaça a flora e fauna nativa do Chile dizendo que deve "pagar por seu
direito a existir". Kast é um político reacionário e ultraconservador,
devemos rejeitar sua candidatura.
No entanto, aqueles que afirmam
que Kast representa o auge do fascismo mentem. O fascismo é um fenômeno de
massas, de civis armados destinados a aniquilar fisicamente as organizações da
classe trabalhadora, que implica uma derrota histórica para a classe
trabalhadora. No atual momento, Kast não pode liderar um movimento como esse,
porque o Chile não vive uma situação de derrota, mas de revolução. Kast não tem
apoio de massas, a alta abstenção reduz suas margens políticas, enfraquece sua
candidatura.
Todavia, isso não significa que
Kast não represente um sério perigo para os oprimidos, os vulneráveis, as
mulheres, os povos originários, as pessoas LGBT. Seu avanço eleitoral e sua potencialidade
de vitória incentivarão os indivíduos ou grupos reacionários organizados a
agir. No entanto, quando se trata de implementar tal regime, nem a vontade de
Kast nem o apoio de um setor da classe dominante é suficiente, a força mostrada
pelo movimento de massas pode esmagar qualquer tentativa reacionária.
Não devemos votar em Boric, o
candidato do imperialismo
O outro candidato Gabriel Boric,
que lidera a Coalizão Eu Aprovo-Dignidade é o candidato do imperialismo estadunidense.
Boric é membro da Internacional Progressista encabeçada por Bernie Sanders, senador
do Partido Democrata, que faz parte do atual governo imperialista dos Estados
Unidos. A Coalizão liderada por Boric é
composta por grupos da Frente Ampla (FA), do Partido Comunista (PC), e dos
Verdes, tem um programa de defesa do capitalismo, dos lucros de banqueiros e corporações
multinacionais.
Bastou ser confirmado no 2º turno
para Gabriel Boric afirmar que não é a favor da anistia aos presos políticos "não
se pode perdoar uma pessoa que queimou uma igreja, uma PME ou que saqueou um
supermercado", afirmou aos meios de comunicação de massa. Em 30/11 os
meios confirmaram que faltaram quatro votos no Parlamento para que fosse
aprovado o projeto de descriminalização do aborto. Entre aqueles que se
ausentaram na sessão, o que permitiu a queda do projeto, estava Gabriel Boric.
Localizado contra os direitos
mais elementares, Gabriel Boric chegou até elogiar as reacionárias Igrejas
Evangélicas do Chile: "As Igrejas Evangélicas desempenham um papel
fundamental na sociedade chilena... Merecem todo o meu respeito e admiração".
O caráter de candidato do imperialismo de Boric foi reforçado pelo apoio
imediato que recebeu dos partidos da "Concertação", os partidos do
regime dos "30 anos". Tanto a Democracia Cristã como o Partido
Socialista o apoiaram na mesma noite da eleição.
Boric traiu a luta de nosso povo
quando impulsionou o "Acordo de Paz Social" de 15 de novembro de
2019. O Acordo é uma traição à luta do povo para salvar o capitalismo chileno.
O "Acordo de Paz Social" de 15 de novembro de 2019, do qual Boric foi
seu garante, deu origem à atual Convenção Constitucional reduzida a um mero
cenário carente de poder. Nenhum voto a este candidato representante do
imperialismo dos Estados Unidos, os Democratas! Por estas razões, apelamos à
rejeição da sua candidatura.
A esquerda mundial chama a
votar por um candidato do imperialismo
A candidatura de Boric está a
receber o apoio de todo o arco mundial de partidos e organizações que se
autodenominam "de esquerda". De Bernie Sanders, senador do Partido
Democrata, que se reclama "socialista", Yanis Varoufakis, principal
dirigente da Syriza da Grécia, até a organização DSA Democratas Socialistas da
América e sua publicação, a Revista Jacobin, encabeçam o chamado a apoiar
Boric.
Os Think- Thanks progressistas
como CLACSO (Conselho Latino-americano de Ciências Sociais), bem como
intelectuais de renome como Chomsky, Zizek, ou Tony Negri, e Naomi Klein, todos
esses "catedráticos, eruditos, e professores", dão seu apoio a Boric.
Também o fazem personalidades ligadas ao imperialismo europeu como o Juiz
Baltasar Garzón, e José Luis Rodríguez Zapatero da Espanha, Jeremy Corbyn do
Partido Trabalhista da Inglaterra, França Insumisa de Jean-Luc Mélenchon, Tiny
Kox do Partido Socialista da Holanda, e Gerardo Pisarello de Barcelona en Comú,
grupo independentista Catalán, entre outros.
Também estenderam seu apoio a
Boric outros dirigentes de coalizões capitalistas como Ertuğrul Kürkçü do
Partido Democrático dos Povos da Turquia, Rafael Correa do Equador, Evo
Morales, Luis Arce, e Alvaro Garcia Linera, o atual governo capitalista do MAS
da Bolívia. Luiz Ignácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, e Fernando Haddad do PT
do Brasil, bem como da Áurea Carolina do PSOL do Brasil.
Apoiam Boric Gustavo Petro da
Colômbia Humana, o governo de Alberto e Cristina Fernández da Argentina, e o
governo de MORENA no México. Os governos capitalistas que se inscrevem na
corrente conhecida como castro-chavismo como as ditaduras que encabeçam Díaz
Canel de Cuba, Maduro da Venezuela, ou Daniel Ortega o da Nicarágua, ou o
governo capitalista de Luis Arce na Bolívia, assim como todos os grupos estalinistas
do mundo, começando com Jadue e o Partido Comunista do Chile.
Juntos, as organizações
sociais-democratas, estalinistas do mundo, apoiam Boric também os grupos ex-
guerrilheiros, e também os grupos provenientes do trotskismo. Entre esses
últimos o mandelismo e o NPA da França, o grupo Corriente Marxista
Internacional de Alan Woods que apoiou Chávez, o grupo Socialist Alternative
que tem a vereadora em Seattle Kshama Sawant, assim como o grupo de Comitê por
uma Internacional dos Trabalhadores, liderada por Peter Taafe, ou o grupo
Izquierda Diario del PTS da Argentina. Todos esses grupos têm lançado uma
campanha "para derrotar Kast", com o qual se somam, na verdade, a essa
campanha mundial de apoio a Boric liderada pelo imperialismo, e a Internacional
Progressista. Outros grupos como a Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT)
liderada pelo PSTU do Brasil, a UIT de Esquerda Socialista da Argentina, chamam
diretamente a votar em Boric. Desse modo, todos esses grupos levam a cabo uma
enorme traição, lançando uma campanha mundial para enfrentar Kast, por meio do
voto direto em Boric, assim apoiam na prática a política do imperialismo
mundial e a burguesia chilena, traindo o povo do Chile, os povos do mundo, e o
Marxismo.
As mentiras do advento do
fascismo
O que une os líderes do Partido
Democrata dos Estados Unidos, com os ex-guerrilheiros, ou chavistas no apoio a
Boric? E o que une os dirigentes do imperialismo europeu, a Democracia Cristã
do Vaticano, e os grupos que provêm do trotskismo no apoio a Boric? Todos
apresentam o mesmo argumento: Kast deve ser travado porque Kast significa a
chegada do fascismo
Todos esses dirigentes, e grupos
mentem. Buscam infundir o temor nas massas, enganando sobre qual é a verdadeira
situação política do país. Não existe nenhuma condição objetiva para que surja
um regime fascista no Chile. Pelo contrário, o Chile está vivendo há dois anos
uma situação revolucionária expressa nos altos índices de abstenção, as enormes
mobilizações de massas, o desenvolvimento de um processo massivo de surgimento
de ativistas, como os jovens da Primeira Linha, que são um exemplo mundial.
Se no Chile continua a governar
Piñera, os Carabineiros não foram dissolvidos, há 2500 presos políticos, uma
Constituinte falida, e continua a existir uma democracia burguesa, é produto da
traição de todas as direções políticas, sociais, e sindicais do movimento de
massas, à luta do povo chileno. É por isso que o povo lhes vira as costas nas
eleições e não acredita neles.
Essa campanha que lançam sobre o
"advento do fascismo" não é nova. Todos esses setores já o levantaram
em 2018, quando ocorreu a eleição que levou Bolsonaro ao poder no Brasil. Nesse
momento a eleição também foi apresentada por alguns como 'a chegada ao poder do
fascismo'. No entanto, Bolsonaro venceu as eleições com uma minoria de
eleitores da população do país, e logo seu governo foi cercado por importantes
lutas. Três anos depois o balanço é claro: no Brasil não houve nenhum
"golpe", nem "regime fascista".
Por que eles lançam a campanha de
que "Kast tem que parar que é o fascismo"? Para ocultar sua traição e
capitulação, sua política de abandono do marxismo, e enganar o povo e seus
militantes. Chamamos todos os militantes dos grupos de esquerda a abandonar
esses grupos, dar as costas a esses dirigentes traidores, e vir ao projeto
revolucionário de La Marx Internacional.
Com a abstenção e o voto nulo,
voltamos as costas a essas coligações que defendem a política reformista
funcional do Chile Capitalista. Não lhes demos nenhum voto! nem Kast, nem
Boric! Com a abstenção e o voto em branco/nulo defendemos as liberdades
democráticas, a liberdade dos presos políticos, sustentamos a reivindicação por
Justiça e Punição aos responsáveis pela repressão, o desmantelamento do Corpo
de Carabineiros (Polícia), e defendemos os companheiros da Primeira Linha,
verdadeiros heróis da luta contra o regime capitalista chileno.
Com a abstenção e o voto nulo,
viramos as costas às corruptas instituições que mentem falando de
"democracia", quando sempre votam leis, e ditam sempre a favor dos
ricos para afundar o povo na pobreza, e na miséria. Esta farsa de
"democracia" é para ricos, corporações e corruptos, Não lhes daremos
nenhum voto!
Organizamo-nos pela abstenção e o
voto nulo para nos unirmos aos povos do mundo que lutam contra o capitalismo
como na Colômbia, França, Iraque, a heroica luta dos operários de Cádiz na
Espanha, a luta do povo palestino, etc. no caminho da luta pelo Socialismo Mundial.
Organizamo-nos em todo o país na abstenção, e no voto nulo! Te convidamos a
unir a essa luta por um Chile Socialista!
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